Passava das nove e trinta da noite e a reunião se estendia por horas incontáveis, já nem mantinha a mesma postura na cadeira, no entanto continuava a ouvir os tantos argumentos e razões, enquando mordiscava o lápis ( um hábito que nunca tive), então olhei o relógio e me levantei; " Está na hora, preciso ir ".
        Passei pelo escritório mal iluminado, onde se via uma luz aqui e outra ali, de algumas mesas ainda em atividade,  e me retive brevemente para dar um alô de cortesia, e eram pessoas que já haviam trabalhado comigo em algum momento da vida.
       - Como vão as tarefas ?
       - Vai indo, sempre se completam, não é mesmo ?
       - Bom trabalho, estou de saída !
       E alguém ainda me perguntou  enquanto tomava rumo; " E o bigodão ?" , me fazendo virar por um instante, e  sorrindo lhe disse ; " Ficou pelo caminho" - ( Curioso é que mantenho o bigode !).
       Passei por alguns corredores e cheguei a um restaurante fechado, onde as cadeiras estavam sobre as mesas, e só a luz vigía mantinha o recinto iluminado, notei que ainda haviam duas ou três pessoas a um canto, bebendo e conversando baixinho , e nem me notaram.
       Sentia uma segurança e uma leveza que poucas vezes tive, não havia nenhum sentimento de incompletude, nenhuma ansiedade, nada, absolutamente nada , estava muito bem.
        Aquele estranho lugar , pouco iluminado embora bonito, estava abaixo do nível da rua, e atravessando o restaurante me deparei com uma escada larga como as que tem nas galerias da cidade, e fui subindo calmamente com o casaco na mão, enquanto a cidade e suas luzes apareciam à minha frente.
         Não sei quem me aguardava e nem em que lugar, não havia pressa, mas sabia o tempo todo aonde estava indo, o que tinha que fazer e que havia um sentimento de amor e paz dentro de mim. 

 
Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 18/09/2018
Reeditado em 18/09/2018
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