O bilhete (O conto)

Tantos dias sem mensagens, nem uma ligação... Também não viu o seu carro estacionado em frente ao posto onde costumava parar. Teria viajado ou de fato teria se mudado para Fortaleza, como sugeriu a secretária do seu melhor amigo, naquele fatídico encontro no salão de beleza?

A moça tinha fama de fofoqueira mas é que tudo fazia sentido e, ademais aquele registro no seu WhatsApp dias antes, seria ou não um indício de traição? Limpou as lágrimas e decidiu que não se importaria. O coração doído lhe mostrava que não seria fácil. Saiu mais cedo do consultório, foi ao shopping comprar aquela bolsa que povoava os seus sonhos há meses e, por que não um par de brincos do cristal famoso? Fez-lhe as próprias vontades e antes de chegar em casa entrou na padaria mais charmosa do bairro. Levou comidinhas e umas cervejas especiais. Seria hoje a própria companhia para ver sua série preferida.

Ao entrar em casa viu o bilhete ainda no chão.

Na sua impulsividade, ao sair do cabeleireiro naquela tarde, Carol deixou no para-brisa do carro de Guilherme, suas dúvidas em tom de inquisição. Ele se sentira pressionado e ser alvo de fofoca o deixou tão bravo quanto revoltado. Foi até ao apartamento dela, não teve como dialogar e diante o nervosismo da namorada, amassou aquele papel e o jogou no canto da sala. Fechou a porta com ares de rompimento. Pediu-lhe que não o procurasse mais.

As lágrimas brotavam com intensidade, os planos de uma noite de solitude foram por água abaixo. Pensou em telefonar mas resistiu... Talvez tivesse mesmo viajado ou se mudado... Buscou o telefone de Bernardo que com voz de sono confirmou: "Não viajou, não se mudou e esteve ontem no mesmo bar que eu até às três da madrugada. Voltou pra casa pedindo carro no aplicativo, devido o seu estado alcoólico. Boa noite Carolzinha!"

Sentiu um misto de alívio e tristeza. Estaria sofrendo também? Abriu uma cerveja, mas não conseguiu comer. Também não prendeu a atenção na TV e quando já estava adormecendo no sofá ouviu o interfone. Deu um pulo do sofá. Já passava da meia-noite... Seu coração quase saiu pela boca quando reconheceu aquela voz.

Dali em diante, não é preciso contar o que se deu. Um abraço silente e profundo.

Ele só disse baixinho:

- Bernardo me ligou.

Ela tateou a fechadura, rodou a chave e trancou a porta na esperança de que ele não saísse nunca mais da sua vida.

Cláudia Machado
Enviado por Cláudia Machado em 09/09/2018
Reeditado em 16/02/2019
Código do texto: T6444023
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