O irmão
Na recepção do IML a mocinha detrás do balcão mandou sentar e aguardar o legista, que pareceu demorar dias.
De um corredor mal iluminado surgiu o homem. Me estendeu a mão e sem rodeios foi explicando a situação:
_ Aparentemente seu irmão dirigia em altíssima velocidade quando perdeu a direção e capotou. O resgate chegou logo, mas não havia nada a fazer.
Com uma naturalidade apavorante, virou-se e voltou por onde tinha vindo. Eu o segui em silêncio.
No final do corredor acenderam-se as luzes de uma sala e pude ver as três mesas com os corpos. Fiquei paralisado, meu estômago revirava. O médico pôs a mão em meu ombro e tentou me consolar. Foi aí que comecei a gritar:
_ Você tá louco? Que palhaçada é essa?
O médico se espantou e eu berrei novamente:
_ Esta não é a família do meu irmão, seu merda!
Descontrolado, apertei o pescoço do desgraçado até ver seus olhos paralisados. Saí aliviado.
Ao passar pela recepcionista não pude conter a crise de risos, pois então me lembrei que sou filho único.