A ÚLTIMA QUEDA (MINICONTO)
Seu amor não tinha nome e nem endereço. Apenas hora marcada e uma ardência no coração. Todo dia ela passava decentemente do outro lado da calçada às 18h30. Um dia encheu-se de coragem e a seguiu. Entrou onde ela havia entrado. Assim que transpôs a porta ela estava no meio do corredor com um belo sorriso e as mãos estendidas. Atrás o pastor pronto para a cerimônia de casamento. Achou surreal, mas, sem palavras, deixou que tudo acontecesse.
Acabada a cerimônia, levou a esposa para desposá-la. No dia seguinte acordou atrasado. O café já havia sido preparado. Apenas disse que voltaria para almoçar. Ela sorriu e lhe beijou.
Na hora do almoço ele resolve passar em frente à igreja onde havia se casado no dia anterior. Ele sequer sabia o nome da denominação. Mas no lugar dela apenas um terreno baldio. Não havia nenhum vestígio de qualquer construção no local. Assustou-se, voltou apressado para casa.
A esposa também não estava. Na porta da geladeira o bilhete dizia que ela havia lhe preparado uma sopa. Pedia desculpas e afirmava enfaticamente que apenas tinha cumprido sua missão. Ele abriu a panela e lá dentro sua cabeça cozida entre legumes. Foi aí que levou a mão até o pescoço e percebeu o sangue seco antes da sua última queda.