PESCADOR DE SOLIDÃO
A canoa seguia deslizando silenciosamente sob a lua cheia. Às vezes, a borda laminada luzia como um falso brilhante, mesclando-se à superfície caudalosa do rio. A água serpenteando a mata de um lado a outro. A mata abraçando o barco de popa à proa. Inexplicavelmente, o silêncio era indelicado, profundo e nostálgico. Parecia que os seres viventes prestavam solidariedade à dor que era só dele naquele dia. Não se sabe por que, mas ao invés de peixe, pescou solidão. E ela doeu tanto que ele chorou. Não só chorou, mas urrou como um cão. E bebeu até estancar o choro, já que a dor ninguém lhe tirava do peito. Foi quando dormiu. E dormindo não viu quando um Piraíba de mais de duzentos quilos fiscou a isca e de presa virou predador, puxando o barco entre dentes. E um era refém do outro sem saber. No meio da mata, no meio da noite, num rio do Brasil.
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