O Tímido no Bordel

Era um galpão de madeira oculto pelas arvores na beira da estrada. Para a maioria era uma zona de terceira, para ele um lugar simples e discreto.

Tinha um bar, um palco para os shows e plataformas onde as mulheres se mostravam para os clientes.

Os quartos ficavam nos fundos, mas ele nunca chegou a ir até lá, a timidez era uma maldição que carregava desde a infância.

Como em tantas outras noites; está em sua mesa ouvindo a musica e de olho na mulherada, o garçom lhe traz a enésima cerveja, ele enche o copo e numa atitude automática acende um cigarro.

Enquanto tira uma baforada sua atenção se volta para uma ruivinha ameaçando jogar a calcinha.

Distraído com a cena assustou-se quando sentiu um aperto firme no ombro, virou-se e viu que um mulato enorme o encarava.

Sem entender permaneceu calado e o mulato perguntou:

_Ô seu merda, sabe que não pode fumar aqui?

Imediatamente reconheceu seu erro, jogou o cigarro no chão e apagou com o pé.

O gigante não se satisfez e desabafou:

_Tô com o saco cheio de ficar pajeando gente como você.

Ficou confuso, mas graças a coragem que a bebida oferece indignou-se:

_O que quer dizer com "gente como você"?

O homenzarrão não se intimidou, ao contrário, gritou para que todos pudessem ouvir:

_Quero dizer: “homi bundão”, que vem sempre aqui e não gasta porra nenhuma com as meninas.

Naquela altura tinha a impressão que toda a zona olhava para ele, estava humilhado e sem saber o que fazer deixou novamente a bebida falar por ele:

_Escuta aqui, você não tem o direito de me esculhambar desse jeito, existem leis que garantem ao cidadão ser tratado com dignidade e respeito. Como o grandão não estava afim de discutir jurisprudência, o "defensor dos tímidos oprimidos" terminou a noite na Santa Casa com o nariz quebrado.