BORDADO FINO

As mãos franzinas cheias de vincos, como se fossem erosão sulcada na terra, deixavam transparecer os oitenta e três anos bem vividos. As manchas senis, tatuagens do tempo sobre a pele fina, se misturam às queimaduras antigas, resquícios dos biscoitos de polvilho doce que costumava fazer para o lanche da tarde. As unhas muito limpas, há muito não esmaltadas, puxando delicadamente os fios de seda do bordado refinado e único, trabalham em constante e contínuo exercício de ornar a vida. Há mais de três anos tecia a tessitura da existência em minúsculas florzinhas coloridas. Que bordado é esse que não acaba mais? Indagavam. Mal sabiam eles que fazer, desfazer e refazer a trama tornou-se a estratégia dela para enganar a morte.

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Adelaide Paula
Enviado por Adelaide Paula em 27/04/2018
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