A aurora chega vestida de vermelho-alaranjado. Atrasado, canta o galo no terreiro. Voa um bando de pombas assustadas. Batem asas. Acordam o vaqueiro que dorme. Homens de perneiras e gibão assumem os postos. O gado escorre fino, na ponteira. Zulmiro conta quatrocentos e quarenta. O preço do pasto é por cabeça. Faz a conta. Onofre entrega-lhe um alforje cheio. O fazendeiro conta o dinheiro. Tudo no combinado.
— Minhas recomendações ao Coronel Generoso.
— Sou por ele, todo agradecido. Obrigado pelo rancho.
— Precisando, estou pronto.
A boiada segue o fio da estrada. Na dianteira, Xandão sopra o berrante. Onofre faz a guia. João Velho toca o gado com outros vaqueiros. Não precisa apertar o passo. A jornada é curta para um dia.
As horas se vão.
Lentas. Sonolentas nas pálpebras dos vaqueiros. A onça parda espia atrás de um murundu. Conta o gado. Não se atreve a meter-se entre os cascos. Espicha os olhos suplicantes a Deus, e pede seu sustento. Não há cria nova, nem boi machucado. Só assustadoras montanhas de carne em movimento: uma tonelada de carne cada boi leva nas costas. A cabeceira vai longe. A retaguarda é tardia.
Deus escuta.
E não atende a prece felina, porque também Euzébia pedia proteção divina para os vaqueiros e o gado. Evem, Onofre com a boiada que pastou no Gorutuba. Suada, expele o rio que bebeu na invernada, e traz a pastagem na carne. Só boi gordo, no ponto de balança. Mais de quatrocentos. A vaqueirama não se cansa de aboiar:
‘Avante, Gracioso... Arreda, Matreiro!...
Vai Samburá... Arreda, menino,
que a boiada vai passar! Bôooi!’
***
Adalberto Lima, trecho de "Estrela lque o vento soprou."
Imagem: Google
— Minhas recomendações ao Coronel Generoso.
— Sou por ele, todo agradecido. Obrigado pelo rancho.
— Precisando, estou pronto.
A boiada segue o fio da estrada. Na dianteira, Xandão sopra o berrante. Onofre faz a guia. João Velho toca o gado com outros vaqueiros. Não precisa apertar o passo. A jornada é curta para um dia.
As horas se vão.
Lentas. Sonolentas nas pálpebras dos vaqueiros. A onça parda espia atrás de um murundu. Conta o gado. Não se atreve a meter-se entre os cascos. Espicha os olhos suplicantes a Deus, e pede seu sustento. Não há cria nova, nem boi machucado. Só assustadoras montanhas de carne em movimento: uma tonelada de carne cada boi leva nas costas. A cabeceira vai longe. A retaguarda é tardia.
Deus escuta.
E não atende a prece felina, porque também Euzébia pedia proteção divina para os vaqueiros e o gado. Evem, Onofre com a boiada que pastou no Gorutuba. Suada, expele o rio que bebeu na invernada, e traz a pastagem na carne. Só boi gordo, no ponto de balança. Mais de quatrocentos. A vaqueirama não se cansa de aboiar:
‘Avante, Gracioso... Arreda, Matreiro!...
Vai Samburá... Arreda, menino,
que a boiada vai passar! Bôooi!’
***
Adalberto Lima, trecho de "Estrela lque o vento soprou."
Imagem: Google