Barro

A esposa do pastor entrou na saleta onde o marido escrevia um texto em seu caderno de anotações. Inclinou-se sobre ele e o beijou na fronte.

- Já está preparando a pregação de domingo? - Indagou.

- Vou falar sobre o barro... - respondeu ele, parando de escrever, ar pensativo. - Da necessidade que temos em ser flexíveis para que Deus molde nossas vidas. Nem endurecidos e ásperos demais, como cacos de cerâmica quebrados, nem misturados às coisas do mundo, como o pó das estradas.

- Do pó viestes, ao pó voltarás - citou a esposa.

- É esta a tendência natural de todos os seres vivos... na morte, voltamos a ser os componentes mais básicos, e nos reintegramos à natureza, da qual saímos. Mas eu estou falando da vida espiritual, não do corpo físico.

- Você citou três aspectos: pó, barro e caco. Mas e a peça inteira, que é rígida após ter ido ao fogo, mas possui utilidade e também beleza? - Questionou ela.

O pastor sorriu.

- Eis aí um bom desfecho para o sermão: Deus molda o barro, e o fogo das dificuldades da vida o solidifica em sua forma definitiva. A qual, como bem disse você, possui tanto beleza quanto utilidade.

E, acariciando os cabelos da esposa:

- Você, por exemplo, minha amada, é um belíssimo vaso. De porcelana, naturalmente.

- [08-04-2018]