O estacionamento

- Sonhei com um estacionamento... - me disse Júlia, quando nos sentamos para tomar café na lanchonete.

- Pode ser um sinal... do seu inconsciente - avaliei, enquanto pingava adoçante no meu cappuccino.

- Que tipo de sinal, Rita? - Questionou ela, após bebericar um gole do seu latte e ficar com um bigode de espuma.

- De que está na hora de se livrar de quem está entravando a sua vida - prossegui.

- É isso que significa? - Disse ela em tom retórico, passando a língua pelo lábio superior.

- É o que geralmente se fala. No seu caso, nem preciso dizer que é uma situação concreta.

- O Lívio precisa de mim - retrucou, com ar determinado.

- Lívio não é um bebê, e você não é mãe dele. Só está do teu lado enquanto puder pagar suas contas. No dia em que você estiver tão endividada que não consiga mais bancar as ideias mirabolantes dele, pode ter certeza de que o amor acaba.

Ela ouviu em silêncio e tomou um gole do latte antes de responder.

- Talvez... talvez você tenha razão. Mas a verdade é que tenho medo da reação dele se eu resolver acabar.

- Ah, então é isso - ponderei. - A situação está pior do que eu havia pensado.

E encarando-a por sobre a mesa:

- Chegou a hora de você deixar o carro no estacionamento, com as chaves dentro, e seguir a pé.

- [20-01-2018]