PORRE

Em extremo sacrifício, descerra os olhos e se vê no chão do quartinho alugado, entre garrafas de conhaque chupadas no gargalo. Embolam-se lembranças enfumaçadas da noite anterior, nalgum balcão de bar; a mão daquele cara em seu pau, o olhar medonho do outro que lhe deu um murro e o deixou caído feito escarro no banheiro imundo. Luzes, vozes e rostos fervilham na cabeça ribombante, entrançados a mais um porre que se inicia. É sempre assim, ressuscita apenas para agonizar e morrer de novo. Ai, o seu martírio de mortes sucessivas...

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 16/11/2017
Reeditado em 15/07/2018
Código do texto: T6173266
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