A grande viagem

O trem percorre os trilhos de forma circular, saindo do ponto de partida em alta velocidade, mas os passageiros não percebem isso. A xícara de café entregue ao senhor sentado próximo a janela não derramou, enquanto esse lê o jornal da semana passada.

A copeira curva-se perguntando:

_ O senhor quer mais alguma coisa ?

_ Não, obrigado.

Duas crianças correm brigando por um ursinho de pelúcia, parecem ser irmãos. A velha ao fundo chama a atenção dos dois, e eles logo atendem ao chamado resmungado baixinho.

Uma jovem mãe nina seu bebê, enquanto a moça ao lado coloca uma flor no canto da janela.

Todos os passageiros vivem sua diferente realidade, compartilham lembranças, medos e perdas. Agora já chegando ao ponto que partiram, descontrolam-se eufóricos e destroem tudo e todos, matam uns aos outros, riem descontroladamente imaginando um calmo percurso. Quando tudo se resume em cinzas recomeçam do zero, ninguém desembarca, simplesmente voltam aos seus lugares, porém com certas diferenças: talvez o café será um chocolate, o vaso de flor não exista e apenas uma criança corra no estreito corredor, ou outras variadas possibilidades, mesmo que eles não percebam.

Mais uma vez se reinicia um novo ciclo, para uma viagem inacabável, que repete-se todavia e o fim sempre será o começo.

Doutora who
Enviado por Doutora who em 11/08/2017
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