A grande viagem
O trem percorre os trilhos de forma circular, saindo do ponto de partida em alta velocidade, mas os passageiros não percebem isso. A xícara de café entregue ao senhor sentado próximo a janela não derramou, enquanto esse lê o jornal da semana passada.
A copeira curva-se perguntando:
_ O senhor quer mais alguma coisa ?
_ Não, obrigado.
Duas crianças correm brigando por um ursinho de pelúcia, parecem ser irmãos. A velha ao fundo chama a atenção dos dois, e eles logo atendem ao chamado resmungado baixinho.
Uma jovem mãe nina seu bebê, enquanto a moça ao lado coloca uma flor no canto da janela.
Todos os passageiros vivem sua diferente realidade, compartilham lembranças, medos e perdas. Agora já chegando ao ponto que partiram, descontrolam-se eufóricos e destroem tudo e todos, matam uns aos outros, riem descontroladamente imaginando um calmo percurso. Quando tudo se resume em cinzas recomeçam do zero, ninguém desembarca, simplesmente voltam aos seus lugares, porém com certas diferenças: talvez o café será um chocolate, o vaso de flor não exista e apenas uma criança corra no estreito corredor, ou outras variadas possibilidades, mesmo que eles não percebam.
Mais uma vez se reinicia um novo ciclo, para uma viagem inacabável, que repete-se todavia e o fim sempre será o começo.