Flutuação

Meados de 2000, World Trade Center, Nova Iorque. Reinava o desânimo naquela reunião convocada às pressas pela vice-presidência executiva. Ao redor da mesa oval, ouvíamos pelo viva-voz do telefone a exposição de Frank Mosconi, gerente de operações para a Costa Oeste.

- Não podemos postergar o lançamento das ações. Independentemente do que acontecer esta noite, o IPO terá que ser realizado. Adiar o evento sinalizaria ao mercado que temos problemas com nosso produto, ou pior, que não confiamos nele.

- Certo é que as notícias que chegam de Dallas são desanimadoras - declarou Sam Waterstone o vice-presidente de operações. - A Miranda Ventures acabou de anunciar que investiu 100 milhões de dólares em nosso concorrente direto, a HighTide.com.

- Foi uma jogada desleal da parte deles - ponderei. - O objetivo parece ser o de afugentar possíveis interessados no nosso IPO. Todavia, creio que podemos reverter o quadro ao nosso favor.

Subitamente, todos ao redor da mesa de reuniões estavam me encarando.

- Você pode nos conseguir um aporte de 100 milhões para fazer frente ao da Miranda? - Questionou acidamente Jack Coogan, o vice-presidente financeiro.

- Não. Mas sei de alguém que tem esse dinheiro: Bill Gates.

Todos começaram a rir.

- Boa piada, Ernie! A Microsoft vai avalizar o nosso IPO - disse Waterstone. - Agora vamos falar sério...

- Escutem: isso não é brincadeira! - Exclamei. - Ou, por outro lado, trata-se de uma jogada. Vamos plantar a informação de que Bill Gates planeja comprar nossa empresa no IPO. Como ele não quer sobrevalorizar o preço das ações, vai manter em segredo até o último minuto.

Continuaram a me olhar como se eu houvesse enlouquecido.

- Quer dizer que vamos divulgar uma informação falsa para criar expectativa em torno do lançamento das ações? E depois tomamos um processo na cabeça? - Indagou Coogan, testa franzida.

- Mas quem disse que seremos nós? - Retruquei. - Vamos passar a informação adiante para gente da TV e dos jornais. Eles se encarregarão de criar o boato.

E perante as expressões céticas à minha frente, acrescentei:

- Criar notícias falsas não é exatamente uma atitude inédita na história da humanidade. E com a internet, esse tipo de informação... ou contrainformação... poderá se espalhar com muito mais rapidez.

Fez-se silêncio. Finalmente, a voz de Frank Mosconi soou pelo viva-voz sobre a mesa:

- Me parece bem. Vamos com isso.

- [10-06-2017]