Caraca!
Deitados sobre uma manta, no gramado dos fundos do sítio, olhávamos o céu estrelado. Ali, longe da poluição luminosa dos grandes centros, era possível ver até a Via-Láctea.
- Caraca! - Exclamou ela, lá pelas tantas.
- O que foi, viu um disco voador?
- Não... nem uma estrela cadente! Estava aqui pensando. O Sol agora está do outro lado da Terra. Não podemos vê-lo, mas ele está lá...
- E, salvo alguma catástrofe, deve estar de volta amanhã bem cedo - respondi.
- E se a luz do Sol fosse uma demonstração de amor?
Olhei intrigado para ela, que olhava para o alto e estava sorrindo.
- Hein?
- Imagina só! Um amor incondicional, que apenas dá, sem exigir nada em troca... sem dizer "te dou isso porque você é minha".
Dei-lhe um beijo na bochecha. Estava fria.
- A mim, parece uma declaração de amor solitária. Até porque, neste caso, os apaixonados estão separados por 150 milhões de km.
Ela voltou-se para mim.
- Mas é um amor que ilumina os céus!
Segurei a mão dela. Fria.
- Acho melhor entrarmos, - disse eu - estou com medo que você seja arrancada de órbita por algum planeta vadio e se perca nas profundezas do espaço.
Ela riu.
- Planeta vadio nenhum vai me levar para longe da luz do meu Sol!
Levantamo-nos. Enrolei a manta e caminhamos de volta à casa. Dentro da escuridão da mata próxima, uma coruja piou.
Olhei para o céu. Em algum lugar daquela vastidão fria, um sol errante estava adentrando algum sistema solar desventurado e arrancando um pobre planeta inocente de sua órbita. Talvez o levasse consigo, girando em órbitas excêntricas que intercalariam céu e inferno. Ou talvez o atirasse para os confins gelados entre as estrelas, que nenhum sol ilumina.
Essas coisas são improváveis, eu sei.
Mas acontecem.
- [27-05-2017]