Linda
Ao som de Dylan nós ficamos ali. Cada um com os seus cigarros e com suas bebidas, eu com Whisky e ela com cerveja. Me aproximei e perguntei seu nome.
- Linda - ela respondeu.
Começou Song to Woody e tudo se entristeceu. Não parecia a hora certa de conhecer alguém, nunca parecia a hora certa para conhecer alguém. Ofereci-a um dos meus melhores cigarros, ela aceitou. Ficamos ali fumando. Assim como eu ela sentia a música, aquilo me deixou confortável, nada de mais. A música acabou.
- E aí? - ela disse.
- O que?
- Qual os seus interesses?
- Sou escritor.
- Quais os seus interesses comigo?
- Só te achei sexy.
- Sobre o que você escreve?
- Sobre mulheres como você - dei um trago.
Ela se calou, acho que eu disse alguma coisa errada. Eu não sabia como falar com as mulheres, essa era a grande verdade. Desde que eu comecei a sentir vontade de meter numa fiquei confuso em como elas pensavam. As mulheres queriam que eu falasse mentiras e mais mentiras pra no fim da noite leva-las pra cama e isso era loucura pra mim. Por que eu não podia ser eu mesmo? Não existem os homens que elas querem e quando um finge ser um desses elas ficam exitadas, querem dar pra eles. Que merda. Preciso aprender a mentir mais.
- É só isso? Acabou já? - ela disse de uma vez.
- Do que você está falando?
- Você não vai consegui levar nem uma mulher pra cama com esse papo sem graça.
Eu não disse nada e continuei fumando.
- Você precisa mostrar interesse.
- Mas você não é interessante.
- Que merda.
- Tá…
Pensei em alguma coisa pra falar ou perguntar.
- No que você trabalha?
- Que merda de assunto é esse? Tenta dizer alguma coisa engraçada.
- Eu não quero mais te levar pra cama.
Daí ela pediu uma outra cerveja e eu terminei o Whisky.
- Vamos dá uma volta por aí.
Saímos pra rua. Na porta do bar tinha um mendigo, um mendigo negro, estávamos num bairro negro.
- Uma moedinha aí senhor.
Ignorei e ela também.