Aleph

Certo dia Aleph se cansou das paredes, elas o sufocavam, cansou do carro, sentia-se num aquário. Então saiu para andar e o fez por dias e noites, atravessou estradas, pontes escondidas entre montes, dormiu embaixo de árvores que sumiam ao cair da noite e quando ouvia insetos incansáveis e ruídos arrepiantes, conheceu crepúsculos diferentes e jamais imaginados. Sentiu dores pelo corpo e fome, jamais pensou que agradeceria tanto por um sofrimento daqueles. A barba no rosto estava endurecida e longa, teve saudades das paredes, da luz elétrica e da água quente, voltou para casa. Foi recebido por rostos horrorizados, pensamos que você havia morrido! entrando em casa notou que seus pés trouxeram barro, sabe-se lá que palavras e frases incognoscíveis suas pegadas escreveram pela terra. Iluminado, percebeu por uma revelação indizível que nunca esteve longe das coisas que o acorrentavam. Por mais distante que caminhasse sempre esteve dentro de seu lar, só precisava das paredes para dormir e se sentir só, agora elas não sufocavam mais.

daniel mafra
Enviado por daniel mafra em 22/04/2017
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