PERDI VOCÊ
Cheguei em casa e você não estava. Olhei pelos quantos procurando algum resquício de sua presença. Um sabe lá o quê de você. Olhei a janela, devidamente fechada, não havia possiblidade que tivesse saltado, não fazia sentido. Comecei a pensar como havia perdido você logo ali dentro daquelas quatro paredes. Você tão silencioso e compassivo. Você tão solitário e sonolento. Você tão igual a mim, mas de matéria tão diferente. Como assim, tivera desaparecido? Eu o deixei em casa, porta trancada. Duvidei de mim mesma, de minhas certezas, e agora questionava se você deveras existira um dia. Será que eu que sou tão inventiva não inventara você para me fazer companhia? Mas, parecia-me tão real o seu existir que estranhava que não o encontrasse ali. Cismei do dia. De como parti às quatro da tarde e deixei-o dormindo. De como peguei o carro e saí correndo, naquela aflição só minha, com a única intenção de trazer seu prato predileto ainda antes do jantar, antes de vê-lo acordar. Lembrei-me, então, que ficara em jejum por algumas horas. Por isso desaparecera? Temi não vê-lo mais. Pensei na morte que um dia me tirou o único amor da minha vida. Agarrei-me ao raciocínio: se não há corpo, não há morte. Suspirei na esperança de não encontrar um corpo. As portas todas trancadas, como pudeste sair? Não conheces o dom das fechaduras, não podias. Como pode? Encerradas naquelas portas meus silêncios e meus segredos. Fui abrindo uma a uma e não é que me dei com você dentro do banheiro? Trêmulo, meio passado. Soube naquele instante que não sabias de nada. E nada havia sido planejado. Por um descuido, um desmazelo meu, ficaras preso no banheiro. E vendo a sua minha fragilidade percebi o quanto significas para a minha sanidade.
Adelaide de Paula Santos em 18/03/2017, às 00: 08
P.S.: Esse serumaninho mágico chamado Ig.