O grito do ipiranga
ouviram no Ipiranga um tiro de revólver, as buzinas no semáforo, portas de comércio abrindo em roldanas e correntes rangentes. Ouviram no ipiranga um rio que o tempo escondeu entre tubulações, prédios e subterrâneos sufocantes, aprisionadas águas escuras entre esquinas da avenida nazaré, da bom pastor e entre as duas vias da ricardo jafet. Ouviram no ipiranga um grito de vendedor, não se sabia se eram doces, jornais, brinquedos baratos, crianças ou entorpecentes o que estava na promoção dos semáforos mas o fato é que ouviam. Diante das portas de um palácio anacrônico, esquecido, último fantasma ainda impávido e pétreo, última luz da monarquia de quando os cavalos ainda trotavam levando no lombo as últimas paixões e tragédias europeias. Ouviram, mas quando se deram conta já era tarde, sangrando jazia numa sarjeta já morria o último infeliz imigrante daquela manhâ.