Abortou as lembranças da Quinta da Boa Vista e aterrissou no sítio. Olhou uma gigantesca mangueira carregada de frutos e disse com doçura:
—Lindo!
— Obrigado. Eu também te acho linda.
— Não estou falando de ti, Bobinho! Falo delas...
— Além de bonitas aquelas mangas devem ser doces, vamos levar algumas  quando formos.
— São lindas, mas estou falando do casar de maracanãs trocando carinhos no galho.
— Parece que se beijam, enquanto catam piolhos, ou catam piolhos, enquanto se beijam.
— Não estão catando piolho, bobinho!...
 Furtivamente, Robert a beijou, meio  meio fora de prumo. A moça tremeu palpitante como tímida perdiz alencarina.
— A natureza é mãe e mestra, disse ele, tremendo a voz, os lábios e as pernas.
Tudo tremeu, saiu do prumo, depois aprumou a conversa:
— Viste A Lagoa Azul?
— Sim, é uma linda história de amor que se passa numa ilha. Às vezes viajo na imaginação, e me sinto numa ilha deserta...
A pergunta caberia outras respostas. Ravenala  teve vontade de dizer que viu estrelas, sentiu calafrios, mas conteve-se.
O tempo parou, o coração disparou. 
__ A vida é um poema que espera ser escrito , disse Robert.
Silenciou, mas não conteve os impulsos de seu coração e  sorveu, lascivamente,  o doce mel dos lábios de ‘Iracema.’ 
***

Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...