Uma canção improvável
Horácio acabara de passar a quinta curva da vida quando naquela manhã, o toque do telefone prenunciava a maior alegria de toda a sua existência. Estava de saída e pensou se deveria atender. Subitamente, ignorou a dúvida e num gesto instintivo, puxou o fone:
- Alo!
Do outro lado, em resposta, apenas um quase inaudível respirar que se estendeu por alguns segundos.
- Alo! Com quem quer falar?
Só o silêncio, e ainda mais longo, parecia implorar: não desligue! Não desligue!
Se soubesse o que estaria por vir, Horácio esperaria por oito anos se fosse preciso.
- Alo! Quem é você?
De repente, como que embalada em papel de presente, a mais grata surpresa. Uma voz entoando um adágio, na mais improvável cantiga sussurrava:
- Sua Juliana!