PASSOS IMPLACÁVEIS

Convencera-se, desde cedo, de que era melhor que os outros. A postura altiva o fazia olhar unicamente para cima. Assim, o mundo em que vivia tornava-se mais e mais deserto. E prosseguia na caminhada incessante, aos passos fortes e implacáveis, com os olhos fixos no firmamento. Mas, quanto mais caminhava, mais distante o céu se tornava, enquanto o ar se rarefazia. É que, sem perceber, afundou a terra sob seus pés e, com ela, afundou-se também. Olhou para os lados, para frente, virou-se; constatou que estava preso num enorme e profundo fosso! Gritou, pediu socorro! Seus gritos restrugiram tão intensamente naquela sinistra cavidade, que a fizeram ruir! E caíam pedaços de terra sobre cabeça e ombros. Já não conseguia ver o alto, tudo era poeira acima de seu corpo! Em poucos segundos, não pôde mais se mexer. Sucumbiu, soterrado na cova aberta com seus passos pesados de soberba.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 08/11/2016
Reeditado em 08/11/2016
Código do texto: T5816972
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