A CHAVE DA PORTA

Esfomeado, o fogo devorava cortinas e móveis do quarto. Tudo o que se via e sentia era uma enorme crina escarlate e escaldante que, enquanto bailava, ardia impiedosamente em pele e olhos. Ar já não havia, mas muita, muita fumaça. E Ari fechado naquele lugar, preso e incomunicável desde o dia em que Tácio partira. Era só o amante que abria e trancava a porta, assim como cuidava de todos os outros detalhes das duas vidas. Ari entregara suas atitudes e reações, a própria existência ao amado; não sabia mais de si. As labaredas se agigantavam e avançavam sobre ele. Com um esforço sobre-humano, conseguiu aproximar-se da porta, quase desfalecido. Tentou abri-la. Trancada. Ele não sabia da chave!

Quando os bombeiros chegaram, encontraram o moço já sem vida. Em seu bolso, a chave da porta.