Turbilhão

Era um domingo à tarde, e nós pedalávamos. Eu queria sorrir, mas ela tinha um olhar preocupado, então eu a acompanhava. Achava que devíamos adotar um ritmo cadenciado, a fim de que pudéssemos assimilar o ambiente, mas ela pedalava, e eu a seguia.

O silêncio me constrangia, mas sei que nela era turbilhão. Tentei mergulhar, mas ela não deixou. Entrava em curvas sinuosas e se desvencilhava dos galhos, e, assim, ficava ainda mais distante. Tive medo de cair no profundo de sua alma e jamais me encontrar novamente.

Assim, decidi apenas acompanhá-la naquele domingo à tarde, naquele pedalar...

E eu ia devagar e ela se distanciava. E o silêncio em seu interior reverberava cada vez mais alto. Como sua aura vibrando no entorno, o que me fazia estremecer.

Resolvi parar, mas não a chamei. Deixei-a ir e encontrei paz. Talvez olhasse para trás, mas creio que não. Turbilhões não são águas calmas. Batem-se em rochas e se revolvem. Arrastam tudo o que acham.

Pois foi um turbilhão o que a achou. Bateu em suas rochas, levando até as mais firmes, revolvendo-a e arrastando-a até a queda.

E eu nada pude fazer. Sequer sei nadar.

Daniel A Vianna
Enviado por Daniel A Vianna em 01/11/2016
Reeditado em 13/04/2017
Código do texto: T5810217
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.