Turbilhão
Era um domingo à tarde, e nós pedalávamos. Eu queria sorrir, mas ela tinha um olhar preocupado, então eu a acompanhava. Achava que devíamos adotar um ritmo cadenciado, a fim de que pudéssemos assimilar o ambiente, mas ela pedalava, e eu a seguia.
O silêncio me constrangia, mas sei que nela era turbilhão. Tentei mergulhar, mas ela não deixou. Entrava em curvas sinuosas e se desvencilhava dos galhos, e, assim, ficava ainda mais distante. Tive medo de cair no profundo de sua alma e jamais me encontrar novamente.
Assim, decidi apenas acompanhá-la naquele domingo à tarde, naquele pedalar...
E eu ia devagar e ela se distanciava. E o silêncio em seu interior reverberava cada vez mais alto. Como sua aura vibrando no entorno, o que me fazia estremecer.
Resolvi parar, mas não a chamei. Deixei-a ir e encontrei paz. Talvez olhasse para trás, mas creio que não. Turbilhões não são águas calmas. Batem-se em rochas e se revolvem. Arrastam tudo o que acham.
Pois foi um turbilhão o que a achou. Bateu em suas rochas, levando até as mais firmes, revolvendo-a e arrastando-a até a queda.
E eu nada pude fazer. Sequer sei nadar.