Metamorfose

 
Juntou as economias, vendeu o carro e contratou o serviço. Após uma semana de planos, medidas e testes, finalmente chegou o grande dia.
Naquela tarde, identificou-se para a jovem admirada, na recepção. Perguntada sobre seu acompanhante, riu, nervosa. Não havia um. E era justamente por isso que havia tomado aquela decisão. Percebia os olhares sobre si. Irritantes. Como sempre.
Pensou em sentar-se, mas estava ansiosa demais para isso. Ficou andando, de um lado a outro do ambiente, tentando distrair-se com os quadros nas paredes, até que a vieram buscar. Mandaram-na despir-se e vestir a camisola azul. Em seguida, fizeram-na deitar-se numa maca e a conduziram ao centro cirúrgico, onde já a esperavam, devidamente preparados, o médico e sua equipe.
- Tem mesmo certeza de que quer fazer isso? - perguntou ele.
Ela assentiu, com a cabeça. Num gesto parecido, ele deu o sinal ao anestesista. Logo ela sentia-se tonta, sonolenta e quedou-se, desacordada. Com alguns cortes e pontos precisos, em cerca de três horas, terminava a cirurgia plástica. As bandagens não lhe permitiam ver o resultado.
Quando, finalmente, pode olhar-se num espelho, certificou-se de haver deixado para trás sua estonteante beleza, para tornar-se uma mulher normal. Não feia. Apenas comum.
Sorriu, satisfeita. Agora, sim. Poderia começar a viver.

 
Este texto faz parte do Exercício Criativo - Depois Daquela Tarde
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