O Caminhar
Os dois caminhavam pelo deserto intenso. A tempestade de areia privava-os das vistas, fazendo com que andassem à esmo pelo deserto sem rumo predeterminado. O cenário imutável e constante faziam com que a noção de tempo e espaço fosse inexistente, sem saber se tinham andado por horas, minutos, possivelmente até dias. Em silêncio caminhavam lado a lado, mas suas mentes já não mais estavam presentes naquele momento. Ambos viajavam por mundos e caminhos distintos, porém, semelhantes, que jamais chegariam a compartilhar totalmente um com o outro.
Até que foram arrebatados de seus devaneios mais profundos e jogados sem aviso ao presente quando, de longe, já não avistavam nenhum sinal do caos dourado e fino que dificultava sua locomoção e forçaram-nos a abrigar-se nas profundezas dos seus pensamentos. Encontravam-se diante de uma gigantesca floresta de aspecto rico. Nenhum dos dois quis ser o primeiro a admitir surpresa por não só naquele momento terem se dado conta de que tinham se dado conta por onde andavam só agora, de modo que permaneceram em silêncio a observar a paisagem ao redor.
O diversos tons verde vibrante dominava largamente onde quer que os olhos fossem, tornando tudo levemente enjoativo, com a exceção de um pequeno rio negro que cortava a planície. Seu ritmo de corrente era curiosamente lento ao usual, e emanava um brilho fantasmagórico cruel que chegava a irritar os olhos somente de contemplá-lo ao longe.
Ao lado, recostado numa pedra, estava um senhor barbudo que bebia vorazmente em um pequeno cantil de um couro velho e enegrecido, em visível estado de prazer. Ao se aproximarem mais, eles puderem perceber que o velho abastecia seu cantil do estranho rio; suas mãos mergulhavam nas águas que pareciam queimar sua pele, mas ele nada demonstrava de dor. Muito pelo contrário, sua expressão de prazer se acentuava mais ainda sempre que preenchia todo o cantil e recebia o toque pútrido da água nos lábios.
Os dois viajantes trocaram olhares significativos e seguiram caminhando, sem se importar com aquela intrigante situação. Então que se depararam com uma chocante imagem: próximo às margens, uma dúzia de corpos recém decompostos que se recusavam a serem levados pela correnteza. O cheiro doce de morte enchiam-lhe as narinas, forçando-os virarem o rosto contra o vento ao mesmo tempo que se davam conta de que haviam restos mortais espalhados por toda a floresta: em meio as arvores, arbustos e crateras vivas de flora; mãos, pequenos fragmentos de crânios e restos de membros disfarçavam-se entre a intensa relva verde.
- Bom - começou Mylon, em um forçado tom casual -, pelo menos o adubo tem sido bem eficiente.
Rodrik riu a pleno pulmões.
- Bem observado, Sir Otimista.