NOITES BRANCAS
Catarina tornara-se a esposa de José numa cerimônia discreta. Dois meses após o casamento, ela fugira deixando apenas um bilhete: "Preciso me encontrar. Volto quando isto acontecer". José releu as palavras inúmeras vezes sem entender o que havia acontecido com sua mulher. Louco por Catarina, o marido abandonado passava horas noite adentro, sentado no primeiro degrau da pequena escada que levava à porta de sua casa.
Ali, noite após noite, José viu o ano passar. E nada de Catarina. Naquela semana, uma mudança movimentara a rua sempre tão pacata. A nova vizinha de José era uma mulher belíssima, além de curiosa. Numa noite fria, Lola observou o vulto imóvel na escada, encoberto pela neblina. Decidida, ela abriu sua janela:
— Está tão gelado aí fora. Venha beber uma taça de vinho comigo.
Quando José se deu conta, estava na sala de Lola. O vinho era delicioso. E a companhia, perfeita. Fascinado, José não desgrudava os olhos da mulher sentada à sua frente. O som das batidas na porta interrompeu a conversa entre os dois.
— José, saia já daí!
Era Catarina. Finalmente sua esposa havia se encontrado. Enquanto ele acabara de se perder.
(*) IMAGEM: NICOLAS JOLLY