O anúncio

Anunciou no jornal estar vendendo Jesus, filho de Moisés e que por sua vez era filho de Esdras e este sim foi o primeiro de uma dinastia de jumentos adquiridos pelo tataravô numa troca feita com um vendedor de fumo, cachaça e farinha por uma televisão preto e branco, uma faxineira fora um saco de sementes de girassol. Disse que Jesus era um jumento forte, preto mas tinha um humor um tanto instável. Demorou semanas para aparecer um interessado, o tempo corria lento enquanto a crise se dilatava, o chão quebrava seco e o último cabrito parou de reclamar rouco e fraco. Certo dia o telefone tocou e a pessoa interessada (voz de homem) disse que oferecia dez mil reais em dinheiro pelo animal. Desligou na cara do sujeito um tanto indignado, endureceu as sobrancelhas, esbravejou. Disse que o animal não valia um terço do que foi ofertado. Ninguém entendeu o motivo da fúria naquele momento, nem as crianças, nem a esposa, nem a sogra ou mesmo o gato de olhar cínico ao lado do fogão. Olhos atônitos. Só podem querer o meu Jesus por esse preço por um grande desespero, querem fazer alguma maldade pro meu Jesus, não se dúvida. Sem falar que ele é da família. Olhou com reprovação para a mulher e a sogra e disse, vou tirar o anúncio do jornal e não aceito mais nenhuma sugestão. Tomou o café queimando num gole só e saiu pela porta