O PRIMEIRO LOVE NINGUÉM ESQUECE

Havíamos nos conhecido em um shopping da capital goiana. Muito barulho e um vai e vem interminável de pessoas. Ela feminista, eu fazendo origami com meu papel de trouxa ainda aos 23 anos.

Eu já conhecia a mãe dela – que senhorinha maaaisss gente boa do karalho, véi – e ela havia nos apresentado:

- Oi, Elzi! Essa é Vanilda, minha filha.

- Oiiii, tudooo bemmm! Lá estava eu fazendo um barquinho (utilizando papel de trouxa reciclado).

Saímos e fomos para uma livraria no segundo andar do shopping. Olhávamos as prateleiras: ela olhava livros relacionados às áreas humanas, eu Kama Sutra!

Marcamos que eu iria pra casa dela no próximo final de semana. E eu mal podia esperar por isso (ainda era virgem!!). E eu já havia construído uma casa, uns 3 ou 4 cachorros, dois gurizinhos adotados e um emprego estável... tudo na minha cabeça.

Chegou o bendito fds!!! Uhuuuuu!! Levei nada pra agradar a guria!! Cheguei lá comprei algumas cervejas e um pedaço de carne bem macia (eu queria fazer média com minha sogrinha, né), e fiquei até a noite. Chegou a irmã dela, uma ex-namorada dela, um amigo meio irmão dela e... eu lá, no cantinho, igual uma menininha com vergonha da primeira menstruação.

A noite resolvemos assistir um DVD: Bandaaaa Calypsooooo!!! Kkkk

Ela era, e ainda é, eu sei que é, militante feminista lésbica negra (ufa!), e eu uma Zé qualquer!! De repente e não mais que isso ela veio com um copo de cerveja, um pratinho com carne assada, sentou-se e se aconchegou bem, mais bem pertinho de mim... Meu coração parou mais que o tempo normal! Senti as borboletas saírem dos casulos dentro da minha barriga e voaaaaarrrr. Gente, que coisa mais boa foi aquela.

Bem, depois de um pouco mais de 2 meses, eu tentando colar grau na faculdade de idiotice, pisei na bola com a Vanilda. Não a traí, isso nunca! Mas, sinto vergonha até hoje do que eu fiz. Ela nunca me perdoou.

Tenho hoje 33 anos, me assumi transexual. Se, na época que eu me rotulava como lésbica, ela já não me perdoava, imagina agora que sou homem trans??? É, confesso que mando inúmeras solicitações de amizade pra ela aqui no facebook, mas ela recusa a todas. Ela lá, eu sei onde, sei como e sei tudo da vida dela porque acompanho na rede, e eu aqui tentando rasgar o meu papel de trouxa, mas sem coragem pra fazer isso. Foi a primeira em minha vida e, tenho a incrível certeza de que continuará sendo a única.