Esboroar da terra




          Abrem uma estrada. Empregados espantados encontram um embrulho perdido pelo caminho. Engenheiros examinam. A cabeça faz revoluteio manso sobre a terra vermelha, traz as órbitas vago-vazias, perde-se na confusão das motoniveladoras, esbarra nas secas lâminas. Um operário tenta alcançá-la, enfia as mãos por entre os ferros, machuca-se, pragueja, benze-se. Pode haver mistério por detrás desta cabeça. É recolhida, embrulhada num jornal velho. Avisar a polícia?

      À noite, em roda, contam histórias de crimes insólitos, com medo do corpo-seco. Homem mau. Não morreu, secou: pele sobre ossos, trepadeiras crescendo por entre os membros, o corpo abandonado, recusado, encolhido. A cabeça restante...
Fheluany Nogueira
Enviado por Fheluany Nogueira em 31/03/2016
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