Gaiola
Passou a ver as coisas sem esperança, a vida pesava em seus ombros. Caminhava pelo corredor a passos arrastados e os olhos vazios quando foi arrebatada pelo chamado do acaso.
O dia tedioso, sonolento entrava pelas grades das janelas chacoalhando as persianas num ritmo soturno, a luz insistia em penetrar sua pele num arrepio morno, seu coração era embalado pelos ruídos externos da civilização.
Em seus devaneios o mundo parecia tão distante e ao mesmo tempo tão próximo, foi quando uma sombra roubou seus pensamentos cobrindo o sol por uma fração de segundos.
A ave exibe sua liberdade e suas longas asas negras em contraste com o céu azul. Ela não pensa, apenas vive.
E ali, planando ao sabor do vento, o urubu irracional parece zombar da consciência humana.