DALVA

Eu ouvia, ao longe, o canto das lavadeiras, misturando-se ao barulho das águas chacoalhando nas pedras lisas do riacho.

As beiras convertidas em jirau pareciam mosaicos coloridos contrastando com o verde da vegetação rasteira.

As senhoras, de cócoras,saias amarradas nas pernas, rebrilham com seus braços molhados e vigorosos, entregues ao caudal dourado que o sol derrama sem tréguas.

Um pouco acima, pescadores espalham espinhéis à procura do peixe bom do jantar, quiça, de toda semana.

Um brilho rápido me chamou a atenção!

Da outra margem, surgiu um homem, cartucheira em punho, atravessou o riacho na parte mais rasa, indo em direção às mulheres.

Seus olhos estavam fixos em Dalva que, absorta, torcia algumas peças de roupa. Dalva só deu pela presença do homem quando sua sombra revestiu-a por inteiro. Olhos contra o sol, ela não percebeu o movimento da mão do homem.

Do bolso, ele saca uma flor do campo, brilha um brilho na cara sorridente e afogueada. Com a mão tremente, entrega à Dalva aquela flor e passa silenciosamente pelas crianças entretidas, esparramadas por ali.

Eu ouvia, de longe, os risos das lavadeiras, misturando-se ao barulho das águas...

Dalva, naquele dia, não mais conseguiu torcer sequer um pé de meias.

Paulo Pazz
Enviado por Paulo Pazz em 21/02/2016
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