Entropia
Houve um dia em que os despertadores tocaram, as pessoas levantaram para ter com seus destinos mas ficaram assombrados com o mais novo fato nas suas histórias pessoais ou mesmo como o de uma única humanidade: a noite não foi embora.
O que consumia agora as manchetes dos jornais, os noticiários na televisão, as conversas nos bares, nos escritórios, comércios, escolas e ruas é que eram já 10:00 da manhã entre os trópicos e o equador e nada da madrugada ir embora e o sol chegar. Então o dia que era na verdade noite passou sem explicação científica ou religiosa (não faltaram hipóteses apocalípticas e descompromissadas com a sensatez para a insólita ocasião), o sol não estava lá mas o planeta continuava em órbita como de costume. Noite estrelada com lua minguante as 17:00. O absurdo tornou-se maior quando os relógios bateram 19:00 horas e o céu se tornou leitoso e cândido como o luar e a lua agora ficou negra como o infinito da noite, feito um grão de café num oceana de leite. As pessoas estavam indignadas, não deixaram seus afazeres de lado só por que a natureza enlouqueceu. Continuaram traindo os cônjuges, furavam os sinais vermelhos, jogavam suas crianças do sétimo andar, compravam votos e influências, jogavam lixos nos bueiros das estradas, matavam uns aos outros entre justificativas mais ou menos sombrias e agora teriam que conviver com aquela aberração no âmbito da astronomia. Alguém escorado na janela se perguntou: o que mais devo achar normal?