CORAÇÃO DE AREIA
Todas as manhãs, no fim daquele outono, Isabel caminhava na praia quase deserta. Além dela, apenas um senhor aparecia por ali tão cedo. A primeira vez que Isabel o vira, imaginara que o homem estivesse perdido. Não era o caso. O sujeito escolhia um ponto qualquer da praia, e deitava-se de lado na areia, apoiando parte da cabeça sobre o chapéu. Sempre que Isabel passava por ele, o homem repetia:
— Eu estou escutando.
Naquela manhã, a mulher não resistiu à curiosidade:
— O que o senhor ouve?
Isabel teve a impressão de que o homem alegrara-se com a pergunta.
— O coração da Terra.
Diante da inesperada resposta, Isabel sorriu, e voltou a caminhar. Alguns passos adiante, ela ouviu a voz do sujeito:
— Parece que estou no colo de minha mãe.