O vermelho no asfalto
Foi atropelada! Coitada! Cruzava aquela rua todos os dias, sempre distraída, cheirando tudo que era novidade.
Logo ao chegar em casa após um dia de trabalho, deparei-me com o corpinho miúdo estendido ao lado do bueiro. Alguém a removeu, pois o sangue denunciava o local do acidente mais adiante.
O enterro foi feito com muita tristeza. Todos choraram, desejando que as horas multiplicassem.
A noite chegou e tentei dormir, sem sentir o calor da gatinha ao meu lado. Acordei cedo, abri a janela e meus olhos imediatamente percorreram o asfalto manchado. Pensei remover o sangue com uma vassoura, mas logo desisti, faltou-me a coragem.
Rezei para que a chuva chegasse, e ela chegou no dia seguinte, lavando o asfalto, limpando todo o vestígio vermelho aparente que tanto incomodava nas lembranças. O sofrimento aliviou e os dias passaram mais rápido. O esquecimento não virá, mas a dor foi diluída.