DESABAFO DE EX-MUSA - Republicação
            Texto de 23 de dezembro de 2012



                            
                                    E a ex-musa digita...

 
         Se houver outras vidas nunca mais hei de voltar como musa. Musa não fica doente, musa é perfeita, musa é sempre estrela, musa não pode ser, nunca, uma simples mulher, sem contar os males que acaba por causar, com nenhuma intenção de causá-los. Como nesta minha vida nada mais tem jeito mesmo, a única saída é aceitar tal fato e curvar a cabeça diante do destino irrevogável... curvar a cabeça diante desta solidão...


                                             (...)


        A ex-musa pretendia escrever um conto, mas a voz lhe seca na garganta e nos dedos. Exausta de si mesma, a musa envelhecida e decadente desliga o computador, toma a pílula para dormir e vai se deitar, na esperança, talvez, de sonhar com os tempos idos, de há séculos e séculos, os seus tempos de musa jovem e bela, Beatriz, a hoje sem nome, Beatriz a guiar, pelas sendas do Paraíso, os passos do seu bem-amado imortal Poeta.