O CASO DO SENHOR P
 
 
 
O charme do senhor P deixara Judite sonhando acordada em sua mesa, após anunciá-lo. Poucas vezes um homem tão elegante entrara no escritório de Horácio. Casado com a filha de um grande empresário do ramo de hotéis, o novo cliente do detetive contou que sua mulher o traía. Ele próprio havia visto. 


Apesar de óbvia, a pergunta de Horácio era inevitável:

— Então como posso ajudá-lo?

— Eu quero mais provas.

Nos primeiros dias em que o detetive seguiu a esposa do senhor P, não encontrou nenhuma conduta suspeita. No final da segunda semana, aquela mulher parecia agitada. Quando Horácio preparava-se para encerrar a investigação, ele finalmente viu a esposa do senhor P encontrar outro homem em um bar.

No balcão, Horácio pediu uma dose de uísque, enquanto observava o casal numa mesa, ao fundo, beber em silêncio. A mulher começou a chorar. E o homem tentava consolá-la. O detetive não conseguia ouvir uma palavra sequer, mas percebeu que se tratava de uma despedida. A tristeza no semblante dos dois era evidente. Nas três semanas seguintes não houve outro contato da mulher do senhor P com o sujeito do bar.

Quando a investigação foi concluída, Horácio mostrou para seu cliente as fotos que registraram o último encontro da esposa com o suposto amante. O detetive não costumava emitir opinião, mas, naquele caso, sentiu que deveria falar:

— Seja lá o que houve entre os dois, acabou.

O senhor P observava a fotografia de sua mulher sendo beijada por outro homem. Colocou-a no bolso interno do casaco, e sorriu:

— Para mim, senhor Horácio, está apenas começando.


 
(*) IMAGEM: ALAIN DELON
 
Dolce Vita
Enviado por Dolce Vita em 10/08/2015
Código do texto: T5341464
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.