O CASO DA SENHORITA F
No final do dia, Judite avisou Horácio que a senhorita F atrasaria meia hora: a prova de seu vestido de noiva apresentara um problema. Horácio resmungou qualquer coisa a respeito de sua nova cliente, mas a secretária não entendeu uma palavra. Duas horas mais tarde, a senhorita F entrou no escritório. Antes que Horácio tivesse tempo de fechar a porta, a jovem mulher adiantou-se:
— Preciso saber se meu futuro marido é fiel.
Os primeiros flagrantes do tal sujeito ao lado de uma bela morena foram registrados no meio da rua, em plena luz do dia. O detetive não teve a menor dificuldade para conseguir provas ainda mais comprometedoras. Numa manhã chuvosa e abafada, a senhorita F acomodou-se na surrada poltrona da sala de Horácio. Todas as fotografias da investigação estavam dispostas sobre a escrivaninha. A moça não perdeu tempo com as imagens:
— Obrigada, senhor Horácio. Estou muito mais tranquila agora.
Surpreso com a aparente serenidade da senhorita F, Horácio observou sua cliente guardar as fotos dentro de um envelope cinza. Após consultar seu relógio, a mulher — decidida — levantou-se:
— Quando chegar a minha vez, não sentirei culpa.
E saiu atrasada para a última prova de seu vestido de noiva.
(*) IMAGEM: LAUREN BACALL