NAVEGAR NÃO É PRECISO

DA SÉRIE CONTOS CURTOS

CONTO N° 3

NAVEGAR NÃO É PRECISO

Natal/RN. Mesmo na intensa movimentação da alta estação, José Godofredo adorava percorrer a via Costeira nos finais de madorrentas e sonolentas tardes, quando o pôr do sol sempre se apresentava primoroso. Caminhava até a praia da Ponta Negra admirando o Morro do Careca e aquele mar sem fim que lhe trazia recordações de sua lusitana terra querida.

Oriundo de Portugal, chegou no Brasil há mais de três décadas para dar aulas de estética e história da arte na Universidade e por aqui ficou como um metal atraído por poderoso imã, que respondia pelo nome de Angélica, anjo negro que lhe seduziu quando ainda era sua aluna. Apesar da irresistível atração, nunca rompeu com os laços familiares da primeira mulher.

Desde então não foi mais o mesmo. Apesar das agruras de uma existência septuagenária, incluindo a perda de um filho, voltava a ser criança quando se reunia com amigos, não por coincidência todos seguidores de Esculápio, talvez por morar na ¨Prudente de Morais¨, próximo à Faculdade de Medicina e Maternidade Escola Januário Cicco, local de trabalho do seu mais apegado camarada, famoso ginecologista obstetra. Talvez um caso mal resolvido.

Nessas horas , olhava para a linha do horizonte além mar, imaginando, como num conto de fadas, possuir a bota de sete léguas para poder, num passo e sem navegar, voltar ao princípio de um destino pleno de vida. Nesses momentos vivia o trágico que tanto marcou historicamente seus antepassados rumo a terras desconhecidas.

Marco Antônio Abreu Florentino