O FANTASMA E O CHICOTE
O delegado acabara de ouvir o depoimento de Federico, sujeito que vivia de favores no hotel de um amigo. O próximo a falar seria Marcello, hóspede do apartamento 403. Enquanto tomava banho, ele fora surpreendido pelas batidas na porta de seu quarto. Aos berros, Federico pedira que ele abrisse. Marcello atendera — enrolado numa toalha — e vira o homem nervoso segurando dois chicotes. Num gesto ágil, Federico entregara um deles para Marcello:
— Venha atrás de mim. E bata este chicote com força no chão. Está ouvindo as correntes?
Apesar do absurdo, Marcello teve a nítida sensação de que escutara algo. Federico emendou:
— O fantasma é masoquista. Não sossega até apanhar. E já passou da hora.
Assustado, Marcello balbuciou:
— Fantasma?
Federico avançou pelo corredor, açoitando o piso com o chicote. Num impulso, Marcello seguiu atrás dele. O som dos açoites ecoou pelos andares do hotel acordando os outros hóspedes. Confusão armada e todos foram parar na delegacia. Agora lá estava Marcello, ainda com o chicote na mão, diante do delegado, tentando explicar o que não fazia o menor sentido.
— Venha atrás de mim. E bata este chicote com força no chão. Está ouvindo as correntes?
Apesar do absurdo, Marcello teve a nítida sensação de que escutara algo. Federico emendou:
— O fantasma é masoquista. Não sossega até apanhar. E já passou da hora.
Assustado, Marcello balbuciou:
— Fantasma?
Federico avançou pelo corredor, açoitando o piso com o chicote. Num impulso, Marcello seguiu atrás dele. O som dos açoites ecoou pelos andares do hotel acordando os outros hóspedes. Confusão armada e todos foram parar na delegacia. Agora lá estava Marcello, ainda com o chicote na mão, diante do delegado, tentando explicar o que não fazia o menor sentido.
(*) IMAGEM: Federico Fellini e Marcello Mastroianni durante as filmagens de "Oito e Meio" / Foto: Tazio Secchiaroli