o piano

Já pertenceu a um teatro e a um colégio de freiras. Já vibrou a tristeza de uma sonata e a alegria de um minueto. Hoje suporta copos, cinzeiros, imagens e retratos. Um dia teve de ser carregado de um apartamento para um futuro endereço. Trazido por mãos e braços truculentos, quis o destino que despencasse do oitavo andar entre um vão e espirais de escadaria. Após segundos de silêncio explodiu num trítono violento, um desabafo de anos de silêncio, Uma dissonância assustadora de cordas, madeira e marfim. A diminuta plateia não pôde aplaudir. Emocionados com trágica melodia, gritaram de pavor, empalideceram. Foi o último acorde e a última música