O BEIJA-FLOR ARREPIADO.
 
“Existe coisa melhor do que dedicar a vida a beijar flores?”
(do autor)
 
 
Era uma vez um beija-flor arrepiado.
Tinha nascido assim, com penas eriçadas, pobre de cores e muito frágil.
Nunca teve oportunidade de participar dos acrobáticos voos dos seus iguais e, por isso, encontrou um cantinho no teto do alpendre da Casa Grande e ali fixou sua morada.
Dali, ficava horas e horas embevecido com os simulados combates aéreos, em estonteante velocidade,  em que seus irmãos se empenhavam pela conquista do privilégio de ser o primeiro a usar os bebedouros.
Sem nenhuma condição de competir, restava-lhe aguardar que a saciedade acalmasse os guerreiros para, furtivamente, sorver o açúcar, seu principal alimento.  Mas tinha que ser rápido, pois o “dono” certamente viria lembrá-lo, inamistosamente, da sua propriedade.
Debilitado por natureza, sua saúde declinava a cada dia até que, naquela manhã radiosa, viu-se em pleno voo em direção ao céu de puro anil, sob o qual enormes e brancas nuvens desfilavam.
Sobrevoou a floresta cujo arvoredo parecia acenar para ele um sentido adeus.  Percebeu que suas penas não mais eram arrepiadas e, pelo contrário, tinham o brilho e a cor do arco- íris, provocando a admiração de toda a passarada.
Repassou todo esse cenário com prazer indizível, pela vez primeira em sua vida, até que uma cortina negra lentamente fechasse seus olhos para sempre.
 
 
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Dedicado aos humildes e injustiçados deste nosso pobre mundo.
Foto do autor
paulo rego
Enviado por paulo rego em 20/04/2015
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