PEREGRINO

Proferiu sobre a vastidão dos mares. Reportou-se aos calmos e por vezes agitados entretons da natureza. Descreveu suntuosos templos, conflitos e desapontamentos. Representou montanhas e planícies, mel e floração. Mensurou catástrofes, superações humanas, nevascas, areias escaldantes. Feriu a respeito do seol e da bem-aventurança. Recorreu a solidão densamente povoada. Enquanto enunciava, deixou transparecer o tempo que diluía orgulho e paixões. Vivera, mas pouco sobrou do invólucro material. Agora, para que não perdesse o sentido da existência, era necessário empreender uma decisiva e irreversível aventura. Por entre os anos-luz, sem forma, peso e medida, harmonizou-se com a translúcida canção que vibrava nos fractais das galáxias.