o miserável
Rosas vermelhas, viçosas e frescas, belas escravas tentando sustentar no carmim crepom de suas pétalas a paixão e a alegria que dava razão ao seu comércio sem notas fiscais num semáforo da avenida bandeirantes. Fez sinal ao menino de chinelo que as trouxesse até a janela de seu carro, quanta facilidade! Era um sinal promissor, sua mulher merecia: comprou um buquê. Teve trabalho com as avenidas tumultuadas até alcançar a tranquilidade de seu bairro, estava de olho nos botões, não os queria murchos. Chegando em casa, amor, que amarga ironia, quando partiu de manhã a esposa ainda era viva e agora estava fria numa cama. chorou de joelhos ao pé da cama abraçado aos seus filhos e concluiu o quanto era miserável: as rosas foram poucas mas não se arrependia da cor delas.