O pijama de Sua Excelência

Fui acompanhar aquele Subsecretário-Geral numa missão à Alemanha. O tema era cooperação técnica bilateral. Ele, e um outro assessor voaram para o destino via Frankfurt. Eu, com a superior anuência, tomei o caminho de Londres, onde veria minha filha.

Embora tempestiva, minha chegada a Berlim deu-se sem a mala que despachara. A única garantia que tinha para participar das reuniões era a que me cobria o corpo. Terno. Au complet.

Mas e as roupas debaixo, as mudas? Veria isso no dia seguinte, uma segunda, com a chegada tardia da mala, ou com a compra numa loja de departamentos. E assim apeei na majestosa residência da Embaixada, onde seu titular, graciosamente hospedaria toda a delegação.

Terminados o jantar, as entretidas e variadas conversações entre aqueles luminares, sempre com assentimento aprovativo e tácito, sem arroubos, dos assessores, chegou a hora de nos recolhermos.

Já em meu aposento, abluções por fazer, eis que ouço dois toques suaves: era Sua Excelência, em pessoa, com a generosa oferta de um kit de higiene bucal e um pijama - descomunal. Se japonês, seria ele um lutador consagrado de sumô, dado o seu physique du rôle. Já eu, como convinha a um assessor fazia o fiel da balança oscilar em torno de...digamos, a metade da massa que se conteria naquele invólucro noturno.

Embora sem a prece abençoada, de minhas noites, foi aquela, de longe, a mais folgada.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 14/03/2015
Reeditado em 16/06/2015
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