Le chat noir
Sexta-feira 13 não era dia de caça, mas de ser caçado. Assim era decretado por lei não escrita, embasada na irracionalidade de superstições seculares. Era todo negro e de olhos amarelos, faiscantes e fantasmagóricos demônios flutuando na escuridão. Ainda que rendessem a ele sucesso entre as fêmeas, acusavam-lhe a presença perante adoradores do diabo e ignorantes outros que apreciassem sua carne para oferenda a deuses inventados e as suas causas pouco nobres. Porém nada importante o suficiente para roubar-lhe a tranquilidade e o charme, já estava acostumado. Fez o de sempre nessas horas, o de hábito. Subiu um muro alto. O calendário lhe favorecia. A astronomia previa para a noite aquela hipótese noturna a qual os homens de ciência chamam de lua nova, ocasião em que nem mesmo as estrelas e as luzes da cidade são suficientes para roubar da noite a pureza de sua escuridão. Dormiu por vinte quatro horas amalgamando seu corpo negro as trevas, assim, tornando-se invisível, ninguém poderia lhe supor a existência.