Cárcere

Domingo deitou-se no sofá, assim foi desde que partiu da mesa do almoço e esqueceu, ou preferiu não lembrar, que a louça era sua. A única certeza que não constava em suas posses era a de como aquilo começou ou como foi parar ali, pois depois de deitado, já não era mais um sofá, e sim uma prisão. Alegou a mulher e aos filhos, dor de cabeça, cansaço, amnésia, dor nas costas, visão turva, dúvidas sobre o futuro da humanidade, dali quatro horas começaria o futebol e não poderia sair por que depois tinha um filme, um documentário e o controle remoto não descolava dos seus dedos e o fez lembrar de quando era criança e ainda se deliciava com o ópio embriagante de uma chupeta. Todos surdos e indiferentes, todos a mesma careta. A mulher foi ao shopping, o filho andar de skate, a mais nova visitar a vizinha aonde outras adolescentes estariam mostrando os novos esmaltes. Traidores! assim abandonam um pai de família!? poderiam ao menos me trazer mais uma cerveja! O gato preguiçoso deitou no braço do sofá aonde o sol da tarde o dominava: pelo menos alguém o entendia

daniel mafra
Enviado por daniel mafra em 02/02/2015
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