CICATRIZES

Sempre procurou separar o passado sombrio de suas conversas e relações. Esbarrou certa feita numa baforada densa que saiu da boca de Isabel direto para o seu rosto. Olhou para os dedos indicador e médio da mão direita dela. Ainda havia muito cigarro a ser tragado. Segurou com delicadeza o braço esquerdo flácido que acabara de conhecer; sem resistências conduziram-se para o boteco pé sujo da mesma calçada.

Depois de muitos tragos e copos vazios, ela tocou naquele braço direito esquelético e peludo, revelando algum calor nervoso no gesto. Roçaram-se, entorpecidos.

Entrelaçaram num olhar todo o estrago a que vida os submetera.

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 18/11/2014
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