Adepta do Naturismo
O clarão da aurora que fez amanhecer o dia removeu também as sombras da parede. Clarice acordou, abriu os olhos e se encolheu embaixo do cobertor. Era a primeira manhã de Inverno, tão fria... Ela olhou pela janela e viu que, do lado de fora havia uma névoa lactescente muito densa. Vislumbrou os galhos murchos da árvore morta ainda de pé na calçada na frente do apartamento, mas não viu o morro do Corcovado ao fundo, e o Cristo Redentor sumiu na cerração branca. O silêncio mudo e profundo era sinistro, causava apreensão, maus pensamentos, solidão... Ensimesmada ela mudou sua posição na cama, deitou-se de costas para a janela e de frente para a parede. Fechou os olhos, pensou no mar, na orla de Copacabana, e dormiu de novo. Acordou algum tempo depois, com o sol que adentrava o quarto através da vidraça na janela, bronzeando a sua orelha. Lançou fora o cobertor e se sentou na beirada da cama, despida, como de costume, por ser adepta do Naturismo. Achou e logo calçou o par de pantufas. Ao se levantar, o que ela não esperava encontrar, e que a deixou completamente aturdida, foi o preservativo usado descartado ao pé do criado mudo. Ela, que é sonâmbula e mora sozinha.