ENCONTRO NA PRAÇA
João estava cansado de tudo. Ao sair do trabalho, no início de uma noite abafada, não sentia a menor vontade de voltar para casa e ouvir o falatório de sua esposa. Caminhou até a pequena praça, em frente ao ponto de ônibus, e sentou-se no único banco do lugar. No instante em que acendeu o cigarro, uma mulher apareceu por ali se acomodando na outra ponta do banco.
Ela era bonita, embora parecesse despreocupada em relação à aparência. João sentiu seu perfume, enquanto a mulher pegava uma barra de chocolate na bolsa. Abriu a embalagem tão lentamente que João poderia ter acabado de fumar antes mesmo que ela desse uma mordida no doce.
A calma daquela mulher era quase um conforto no meio da cidade barulhenta e agitada. Os dois permaneceram em silêncio: ele às voltas com seu cigarro, e ela entregue ao chocolate. Antes de ir embora, João deu a última tragada soprando a fumaça para o alto. Ao levantar-se, ouviu a voz ao seu lado:
— Por que não fica mais um pouco?
Ela sorria com uma naturalidade irresistível. João nunca mais voltou para casa.
(*) IMAGEM: Google