A partida do Guimarães

Não sei agora se era partida ou o regresso. Mas nem era domingo, e lá tava papai de terno e gravata - e guarda-pó, que tudo arremata - pra pegar o trem e ir lá dar adeus ao Guimarães, em Belo Horizonte.

O ano de Deus, pelos cálculos, ou paúculos, meus, devia ser 1955, e qualquer boa biografia do extinto gerente, dono, benemérito, da fábrica de tecidos do Brumado, da Velha Serrana e de Itaúna, há de dar essa precisão.

Embora faltasse choro, o certo é que a gravidade se impunha. O homem morrera na plenitude de sua maturidade, mal começada sua caminhada rumo à senectude, e já tava agora mergulhando na eternidade. Grande Guimarães, homem bom, que arranjara emprego pra quase toda aquela gente que vivia no povoado.

E embora os submetesse ao salário mínimo e aos rigores dos horários e penalidades severas, era reverenciado. E agora, ia, encomendado.

Ia fazer companhia a Getúlio que o antecedera

de poucos meses. E o opereariado, consternado

de verdade, caía na orfandade.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 07/11/2014
Reeditado em 02/08/2022
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